A Narradora

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Juliana
Estudante de Biologia, escritora e desenhista meia-boca nas horas vagas. Odeio cebola, acordar cedo e ficar muito tempo sem ter o que fazer. Na maioria das vezes sou quieta demais e prefiro continuar desse jeito. E sim, meu cérebro às vezes tem lag, problemas com interpretações múltiplas, vontade própria e está atualmente seriamente comprometido por um certo homem de covinhas.
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quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Pensamentos Repentinos (9) - De sangue


Outro dia lá estava eu no meu treino de basquete, feliz, alegre e saltitante quando o treinador passou a bola delicadamente para mim e, com algum movimento que eu juro que não sei como fiz, eu me auto-cortei. Com a própria unha. E foi um senhor corte. Praticamente tirei um bife do meu dedo. Mas chega de detalhes.

A questão é que ele começou a sangrar. Até aí tudo bem, eu abstraí o fato e continuei jogando. Então de noite eu fiz o caminho que eu sempre (há umas 2 semanas) faço pra ir pra casa, fui conversando com uma amiga no referido caminho sobre os dois meninos crespos do CQC e rimos um monte. Deixei ela no ponto de ônibus também como eu sempre faço (dessa vez o sempre quer dizer um tempo consideravelmente maior) e retomei meu caminho, mas dessa vez sozinha. Foi no meio do caminho que o corte do meu dedo começou a doer. Aí eu olhei pra ele, ainda tava sangrando. Vermelho-vivo.

Então de repente eu comecei a pensar no fato de que, no fim das contas, todo mundo é igual. Se eu me machuco, eu sangro. Se eu furar por exemplo... sei lá, qualquer pessoa muito foda, por mais fodástica que ela seja, ela vai sangrar, que nem eu. Ela também não enxerga direito no escuro, também sente fome. Também sorri, também chora.

Por um momento aquilo me reconfortou. Eu não era assim tão diferente dos outros, afinal. Mas de repente o reconforto se transformou em dúvida, em questionamento. Se todo mundo é igual, por que tem tanta discriminação, preconceito, exclusão do coleguinha só porque ele é meio tímido, esquisitão, ou sei lá o quê?

Daí eu também comecei a pensar em o que torna uma pessoa melhor ou pior que outra se elas são feitas basicamente das mesmas coisas. Deixando de lado as questões genéticas do assunto, são as próprias pessoas que fazem umas as outras melhor ou pior, julgando aquilo que elas acham que é certo ou errado, bom ou ruim. Um dia alguém que sabia brincar com uma bola inventou o futebol simplesmente porque ele era bom chutando ela entre dois pauzinhos. Aí as pessoas acharam isso fantástico e resolveram brincar também. As pessoas sem coordenação motora acharam que saber jogar aquele negócio estranho era uma coisa boa e resolveram que aqueles que conseguiam chutar a bola entre dois pauzinhos de uma maneira satisfatória eram especiais. Um dia alguém viu que não conseguia chutar a bola entre dois pauzinhos, mas era realmente bom em arremessá-la com as mãos. Aí ela inventou o handebol e se tornou especial. E deve ter sido assim com tudo, simplesmente porque deve ser da natureza humana querer ser especial e querer achar que outras pessoas são especiais só porque elas sabem fazer alguma coisa melhor (ou às vezes muito melhor) que as outras.

É, eu sei, viajei na batatinha. Mas eu nem ligo, sempre faço isso. E eu nem sei qual é a moral da história. Talvez: Se você quer ser especial invente alguma coisa em que você seja realmente bom ou se mate tentando ser bom em alguma coisa que já inventaram por você.

Ou: As pessoas deveriam se machucar mais freqüentemente pra perceber que por trás de uma habilidade ou outra (ou falta dela), de um rostinho bonito (ou falta dele), ou qualquer outra coisa do tipo, todos nós somos essencialmente iguais. Todos nós sangramos.

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